sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A perfeita imperfeição





Ouvindo uma notícia sobre um casal de famosos, denominados de O Casal Perfeito, terminei a reportagem extremamente irritada.

Essa noção de perfeição na sociedade que vivemos me desestrutura, me tira do prumo. A Perfeição não existe e pronto! O que há de confuso nisso, por favor? É simples, não existe!

Somos animais que pensamos, temos o poder de raciocinar, de escolher, planejar, programar. Vivemos num mundo que nós mesmos criamos e destruímos. Somos cascas.

Eu queria saber se ninguém nunca pensa que esses "perfeitos" criados e mantidos pela mídia estúpida são tão imperfeitos iguais a mim, a você?

É tudo muito simples, basta entender que todos nós, sem exceção, já mentimos, fingimos, omitimos, julgamos, traímos (muitas vezes até os nossos próprios sonhos!). Temos pensamentos feios, maldosos, perversos, pervertidos.

Sentimos e somos muitas vezes o que não queremos. É da condição humana. Quantas vezes julgamos o outro e depois fazemos exatamente igual ou pior? Quantas vezes desejamos o do outro, invejamos, criticamos, querendo exatamente aquilo que não é nosso? Aí, o que acontece?

Passamos a viver como personagens, fingindo ser o que não somos, ter o que não temos, sentir o que não sentimos. Somos egoístas, todos nós, imperfeitos.

O mais correto dos homens já enganou, já mentiu, escondeu. O artista, o gari, o motorista, a prostituta, o preto, o branco, o que come de garfo e faca e o que come com as mãos, o que tem afeto e o que estupra, são formados sob os mesmos medos, falhas e deslizes da condição humana.

Aí tem aqueles casamentos de aparência, os que vão a igreja para tentar minimizar culpas, os que fazem que não estão vendo, os que se fecham em armários indesejáveis trancando a alma, os que necessitam do aplausos para sobreviver.

Chega dessa maratona da perfeição. Todos carregam um histórico que em algum momento da sua existência os condena. Chega de bajulações às "pessoas modelos".

Aí você me pergunta se eu perdi a esperança no homem? Claro que não!

Amo Ser humana! Amo os otimistas, os bem humorados, os esperançosos, que buscam a felicidade própria e alheia, os que respeitam, que torcem, que dividem, que criam, que educam, que ensinam. Amo! Com total consciência da minha, da nossa fragilidade humana.

Chega do blá, blá, blá da receita de "como se tornar um ser perfeito"!

Posso ser uma linda mulher com pensamentos monstruosos, desejar o fracasso do próximo por trás de uma linda educação, ser religioso e ter um preconceito incrustado na alma. Talvez o que falta mesmo nesse mundo seja o reconhecimento por parte de todos nós de que a perfeição é algo inexistente e abstrata. Desde sempre e para sempre.

E viva a perfeição da imperfeição!

Por: Katharina Gurgel

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

De janeiro a janeiro


Eu já estava até aguardando toda essa manifestação de carinho, de afeto, nas redes sociais, renovando desejos, bênçãos nesse processo de passagem de um mês que se vai e outro que está chegando, normal. São tantas imagens e palavras doces, floreadas, coloridas...dá gosto de ver!
Mas quer saber o que eu não acho normal? Eu não acho normal ter que instituir um motivo para renovar a nossa esperança, a nossa fé, ah isso não é normal mesmo!
Todos os dias, indistintamente, são os nossos melhores possíveis dias, é bem claro isso.
Se nós acordamos, conseguimos nos alimentar, temos como nos locomover e nos comunicar, não nos falta absolutamente nada. Posso até imaginar agora algumas pessoas lendo essa afirmação e pensando (ou dizendo em alto e bom som mesmo!): "ela fala isso porque não é com ela!" Não amigos, acreditem, tem muita coisa que é comigo, sim.
A diferença está exatamente na linha tênue e fina da interpretação da vida que nos é presenteada diariamente. Se o que eu comi no café da manhã, de que forma me locomovo, se falta ou sobra companhia para o meu coração e a minha cama são pré-requisitos para me considerar (ou não) uma pessoa feliz, realizada, isso são outros quinhentos.
Felicidade não tem garantia, queridos, nem muito menos regra!
Todos os meses são os nossos melhores e mais possíveis meses de sermos vitoriosos, quer queiramos ou não isso.
A batalha é diária, a luta é permanente.
Rasgo hoje na folhinha não mais um mês que se vai nesse ano, mas um período que me deu chances, momentos e memórias de uma vida que vale muito a pena e que me é dada diariamente, de janeiro a janeiro.
Uso as palavras do gênio Drummont, com a sua Receita de Ano Novo, sugerindo a renovação não em 365 ou 30 dias, mas em 24 horas:
"Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo.
Eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre".
Feliz novo tempo meus amigos!

Por: Katharina Gurgel