segunda-feira, 30 de julho de 2012

Amizade é tudo

Amizade é tudo.
Não, é muito mais.

 É uma corda bem grossa de nylon puxando uma carreta. A força que vem... A força que vai... tudo invisível. A troca concebida por uma amizade (verdadeira!) tem um valor que transcende a explicação do que é mensurável. É um amor sem exigências ou capas, apenas a obrigação de sermos nós mesmos. Talvez aí esteja a verdadeira magia, a possibilidade de sermos absolutamente nós mesmos e ainda recebemos tanto.

Os choros, os sorrisos, os segredos, os traumas compartilhados, os troféus, as taças, só numa amizade nos vemos e nos conhecemos.

Em meditações minhas sobre mim mesma, sou grata, muito grata a tudo o que recebo dos meus amigos. O carinho, o respeito, a lealdade e até a estupidez, em momentos de descobertas, afirmam sempre essa minha perpétua necessidade do outro, do amigo.

É incrível como admiro as pessoas, nas suas essências mesmo, até aquelas que doem. Serve como meu maior passatempo, essa minha observação das pessoas. Chego a perder a noção do tempo... Então imaginem como vejo um amigo? Os observo e os compreendo como seres especiais e únicos, que entraram na minha vida por um propósito e que permaneceram nela talvez até por outros, mas que me fazem crescer e agradecer a Deus por tê-los colocado no meu caminho.

Como li num texto "Amigo é a base quando falta o chão! Benditos sejam todos os amigos de raízes,
verdadeiros!!"

 Sem amigos não se vive!

sábado, 21 de julho de 2012

O Vestido



    
      O Vestido de noiva estava lá, cuidadosamente colocado em cima da cama. Três gerações afirmaram o compromisso vitalício naquele traje. Por si só já era uma instituição. Não havia meios de fugir. Ela andava de um lado para o outro no quarto tentando encontrar uma maneira de esquecer as mangas bufantes, a renda antiga, o babado na gola, a pedraria já meio frouxa e o tom marfim que o branco original adquirira com os anos. O único pensamento que lhe ocorria era a memória do jantar de noivado, no qual recebera da mãe emocionada o vestido. Com direito a discurso longo mencionando as três mulheres que desfrutaram de longos matrimônios simbolizados no tão exaltado objeto de desejo de qualquer noiva romântica. Era o sonho da mãe vê-la usando o vestido que fora seu. 
         Não queria ser indelicada, mas a vida inteira tentara ser diferente. Cabelos curtos tingidos de vermelho vivo, lótus tatuada no ombro, tênis gasto e roupas inapropriadas para o gosto feminista. Era professora de teatro, amava o diferente, o dinâmico, a criatividade. Definitivamente aquela inspiração em forma de roupa digna de uma fã da Rainha Vitória não cairia bem. Acendeu o cigarro, tragou fundo e expirou lentamente. Era preciso decidir, faltava apenas uma hora para o casamento e ainda não estava pronta. O Pai nervoso já a esperava na sala. Não havia jeito, começou a se aprontar. Banho tomado, maquiagem feita, sapatos... E lá continuava ele. Estático e contemplativo. Desafiador. De tantos dilemas que já enfrentara este seria apenas mais um. Segurou-o como quem pega a primeira camiseta da pilha e vestiu. Em frente ao espelho, olhou cuidadosamente a figura que se tornara. Até que não estava mal. De uma maneira estranha sentiu-se confortável. Não faria mal seguir o exemplo de três mulheres felizes com suas escolhas. As razões que faziam vergonhosa seguir uma tradição ficaram tão pequenas que caberiam dentro de uma das pérolas que usava. Respirou fundo e saiu do quarto rumo ao grande dia. O pai chorou orgulhoso como esperado e seguiram à caminho da igreja. 
      Tudo naquele cenário era um grande clichê. Das flores aos saquinhos de arroz à serem jogados na saída. Segurou firme a mão do pai e caminhou para o altar, teve seu momento. Todos a olhavam e comentavam entre si, provavelmente elogiando a beleza da noiva. Mas a única coisa que lhe ocorria é que falavam do maldito vestido! Deveria tê-lo devolvido à caixa e ao baú de onde jamais deveria ter saído. Onde já se viu! Querer seguir o exemplo de três mulheres submissas que jamais se realizaram fora do casamento. Foi entregue ao noivo. Este extremamente pálido, tremia, suava. Provavelmente a roupa também lhe afligia. O padre pronunciou a grande pergunta. Ela respondeu com um sonoro: sim! A igreja se comovia. Quando perguntado, o noivo hesitou. Olhava para os lados como se buscasse saída. O minuto mais longo da história humana. Eu...eu...sinto muito! E correu o mais rápido que podia para longe dali, digno de um verdadeiro Forrest Gump. Após 5 segundos de perplexidade, ela sabia. Nenhum insulto fica sem punição. Nenhuma recusa seria perdoada. O passado cobra sua conta impiedosamente. Não tinha dúvida, vestido agourento, jamais deveria ter cedido aos apelos maternos. No dia seguinte, deu prioridade à cortar o mal pela raiz. Devolveu o vestido à mãe, com a condição de que jamais se tocasse no assunto. 
       Retomou a vida. Anos depois conheceu alguém, decidiu casar. Mas desta vez pegou a primeira camiseta da pilha, o tênis gasto, subiu na garupa da moto do noivo e foram ao cartório. Tudo dito e assinado, foram felizes pela vida. Moral da história? Na verdade nenhuma. Apenas o fato de que vestidos de noiva me deixam nervosa.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Conquistando o bofe



Vamos dar algumas gargalhadas para aliviar o stress. Tenho umas dicas memoráveis para você que quer laçar um prete (pretendente) novo:

Ele marcou para sair com você no sábado e deu um bolo, sem qualquer satisfação. No domingo ao meio-dia, o seu celular toca e é o rapaz. Provavelmente você estará em casa de mau humor e #chateada com o que ele fez na noite anterior, mas não é isso que você dirá ao furão. 

Preste atenção: Antes de atender, ligue o rádio em alguma emissora que esteja tocando um pagode ou samba, coloque no volume máximo e atenda, super animada, dizendo que você está em um churrasco na casa de uns amigos e que liga para ele depois. (Não ligue, aposto que ele vai retornar)

Ainda sobre telefones… por mais que você esteja ansiosa para falar com o fôfo, não atenda desesperadamente no primeiro toque… contenha-se gata! Deixe tocar três vezes, pelo menos, e diga “alô” como se estivesse distraída… disfarce que pulava feito uma louca enquanto tocava aquela música da Beyoncé que você identificou a chamada dele. 


Será o seu primeiro encontro com ele e então você passa oito horas no salão fazendo mechas, alisamento, progressiva, hidratação e escova… saiu até tonta da cadeira de tanto puxarem seus cabelos, mas à noite quando ele lhe pegar e elogiar as suas madeixas… limite-se a dizer “Obrigada! Nem tive tempo de dar uma escova, só sequei rapidinho”.


Ele disse que não poderia sair no sábado, pois tinha um compromisso (deve ser com outra). Então você relaxou o dia inteiro e nem se preocupou em ir ao salão… às nove da noite o desgraçado liga dizendo que mudou de planos e quer te ver. Em 30 segundos você faz um raio X do próprio corpo e percebe que os cabelos estão sujos, as unhas com o esmalte pela metade, a perna parecendo um carangueijo recém pescado e o decote desatualizado… aff… só Jesus na sua causa! 


Seja forte colega e invente uma bela desculpa, mas não vá! Não queime o seu filme só por um encontro que pode esperar por mais um ou dois dias. Diga que você está com visitas (uma tia chata) em casa e que não pode sair… assim descarta qualquer argumento que ele possa ter para lhe convencer do contrário.


No msn, jamais...nunca...never,  fique online o tempo inteiro.  Não seja ridícula em dizer que está ali apenas para conversar com os amigos, você está é esperando a janelinha subir, avisando que ele entrou… fique invisível boba! Depois que ele acessar, você espera alguns segundos e aparece, de preferência com uma foto bafônica para ele nem demorar de lhe chamar na conversa.


Se estiver no mercado fazendo as compras do mês, faxinando ou lavando calcinhas, não tuíte isso ou descreva no facebook. Divas não fazem essas coisas!  Ele só precisa saber que você é uma mulher normal, depois das primeiras semanas.


Caso ele pergunte quanto tempo você está solteira, mesmo que seja há seis anos, diga que tem apenas dois meses. Ele não precisa escutar aquela conversa de que homem tá difícil e não quer nada sério, esse discurso você guarda só para as amigas. Combinado?


Essas táticas fazem parte do manual de Marketing Pessoal de algumas mulheres que conheço. É sério! Algumas levam essas estratégias à risca e caso você queira discorrer sobre o poder da naturalidade, desista! Elas vão dizer que você não entende nada sobre os homens e que sem maquiagem e salto alto, você não chegará ao altar de  nenhuma igreja.


Pelo sim, pelo não… ficam as dicas!


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Um minuto de despedida.



      
          

Não correram muitos anos desde o nosso primeiro encontro. Pelo menos é essa a sensação que tenho. O brilho que ela carregava no olhar ao nosso primeiro toque trouxe ao dia uma cor diferente. 

No frescor dos quinze anos recém completados, seu perfume exalava sonhos e liberdade. Estudávamos juntos horas a fio. Ouvia suas idéias, planejávamos revoluções. Seus segredos me eram confiados. Escrevemos juntos cartas de amor. Éramos inseparáveis. Quantas vezes nossos olhares se cruzavam durante o dia. Que cabeça a dela! Nunca lembrava seus compromissos. Era meu prazer mantê-la pontual. Comigo ela se sentia bonita, especial, orgulhosa, altiva. Em meus braços ela encaixava sua vida. 

Dividíamos o mesmo tempo. Nossos corações batiam em sintonia. Em tempos difíceis apoiei seu rosto junto ao meu e nos molhamos de dor e sentimento. Olhávamos juntos e sem esperança as horas passarem. Superamos as tristezas. Vivemos tempos de glória! Ah, a contagem regressiva à meia-noite... Era para mim seu último olhar de um ano, e o primeiro do que iniciava. Quando achava que meu fim estava próximo, sempre contei com seus cuidados, e sobrevivi. 

Passamos juntos pela vida. Uma bela caminhada que teve seu último passo. Como um sopro de vento sob as asas da andorinha pequena, ela se foi. Tranquila. Embebida na mais pura beleza. Entre flores ela repousa na sala. E eu, destinado por carta aos cuidados de sua irmã mais querida, olho pela janela e me sinto imensamente triste. Como é cinza o céu dos que lamentam. 

Mas acima de tudo, sinto que nossa história foi perfeita. Afinal, nem todos puderam ser o relógio de pulso de uma grande mulher.  

Eu acredito no amor




Eu acredito no amor. Sempre acreditei.

Não aquele amor comercial, vendável na sua mesma proporção de descartável, mas sim naquele amor simples e real. Acredito no olhar longo e minucioso, que não busca absolutamente nada, a não ser, contemplar um ao outro. Olhar de graça, sabe? Acredito no aperto de mão nos momentos de emoções mais intensas e de medos, no sexo intenso e tranqüilo e no abraço quente e protetor. Acredito, de verdade, no amor.

 A vida, essa mesma professora que às vezes nos prega testes, já me fez ate refletir sobre esse sentimento, seus riscos e a valia de provar desse doce (às vezes amargo) afrodisíaco e naturalmente gostoso. Um dia, já deixei de crer e até passei a criticá-lo, enxotá-lo.
Inadmissível amar e sofrer na mesma proporção!

Talvez fosse melhor excluí-lo da minha prateleira de sentimentos e me poupar de lágrimas, solidão e dores. Para que amar e sofrer, afinal?  Escolher não mais amar me pouparia de tanta coisa!

Mas não, não posso escolher não amar. Acredito ainda no amor e acho que sempre acreditarei.

Acredito ainda no beijo intenso, suculento e que lê sensações, acredito na companhia, na partilha de planos, projetos e fraquezas, acredito no silêncio repartido de dois em um, no respeito, na cumplicidade, no caminho. 

Já chorei, cresci, desisti, resisti, quis matar qualquer tipo de sensação que me fizesse ao menos lembrar de amar. E depois de tanta ferida... passou. A minha resiliência sempre e ainda me causa espanto! 

Como ainda consigo acreditar no amor depois de tantas rasteiras? Não sei, talvez aprendi a me livrar da queda antes mesmo que ela venha. Talvez aprendi que amor tem a mesma distância do caminho que me leva a mim mesma.

 O amor que não grita nem solta foguetões, mas sim que pega na mão e oferece apenas um "estou com você aqui", sem maquiagens, artifícios e pompas, esse tipo de amor acho que sempre vou acreditar, mesmo que a vida insista em me mostrar que talvez a melhor saída seja mesmo me tornar fria, mas protegida.


 Não, me arriscarei sempre e mais uma vez, nesse caldeirão de motivos para viver e sorrir, chamado amor.
Katharina Gurgel

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Greve decretada



A categoria das mulheres decreta greve geral!
 
Na luta por condições melhores e mais favoráveis à um relacionamento decente, o grupo decide iniciar a greve por tempo indeterminado, até que exigências simples e inegociáveis sejam atendidas. A greve implica em suspender todo e qualquer tipo de carinho. 

Seguem as reivindicações:

Pelo direito de ser compreendida e ganhar abraços dobrados durante a TPM.
Pelo direito de receber a tal ligação no dia seguinte.
Pela abolição de frases como “estou confuso” e “você é a pessoa certa no momento errado”.
Pelo direito de dizer que estamos namorando e não, “nos conhecendo”.
Pela total exclusão de uso simultâneo de bermuda florida com camiseta listrada.
Pelo extermínio das pochetes e celulares na cintura.
Pela total e irrevogável proibição de coçar o saco em público.
Pelo direito de ser avisada antes dele gritar o nome do time e causar danos aos nossos tímpanos.
Pela obrigação dele saber que meia branca não combina com sapato social preto.
Pelo direito aos pescoços perfumados e barbas bem cuidadas.
Pelo fim da safadeza!
Pelo fim das mentiras!
Pelo fim das traições!
Pelo fim da cobiça à mulher do próximo!
Pelo…

Bom… a categoria chegou à conclusão que as reivindicações devem ser analisadas e reestruturadas de forma que fiquem mais flexíveis.

Caso sejam consideradas desta forma que foram listadas, correremos o sério risco de não sermos atendidas e ficarmos para sempre em greve… e sem homem!

Definitivamente, não é o que queremos.

E vamos à luta… força na peruca e nas cutículas!

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Sexo (nada) frágil




Vou sem bem sincera e dizer que não consigo me lembrar da ultima vez em que me referi às mulheres como sexo frágil. Talvez para responder a alguma piada, mas o fato é que as mulheres estão mudadas. 

Em um passado não muito distante costumávamos ouvir dos pais “Você gostaria que fizessem isso com a sua filha?”. Hoje é muito provável que as mães estejam dizendo à suas filhas “Você gostaria que fizessem isso com seu filho?”.

Voltando um pouco no tempo, as queixas sobre relacionamentos eram praticamente as mesmas: “Minha namorada NÃO faz isso”, “Minha esposa NÃO deixa isso”, ”Tal coisa incomoda minha noiva”. 

Parece que agora as coisas e as reclamações estão diferentes. E só me dei realmente conta após uma conversa com um colega, onde a reclamação foi, pasmem: “Pô! Toda vez que eu saio com a minha mina ela me dá o maior trabalho”. (risos)

A verdade é pura e simplesmente que as mulheres chegaram exatamente onde nós imploramos a nossa vida toda para que elas chegassem. Perdeu o medo, tornou-se forte, corajosa e independente. Pois é! Independente e feliz.

Ela já não se contenta mais em só achar um marido, casar, ter filhos e se tornar a responsável pelo lar e pela prole. Ela quer ter carreira, sucesso, independência financeira e, se os homens bobearem, até o lugar deles!

Agora vou falar diretamente para os homens:

1- Você se recorda de quando reclamava que sua mina, em plena tarde de sábado, te alugava pra ir ao shopping fazer compras? Pois é, hoje ela já não precisa mais de você! Ela já combinou com as amigas desde o começo da semana pelo Facebook em ir ao japonês, passear no shopping e ainda assistir à estreia daquele filme que você não sabe o nome, mas deveria começar a se preocupar porque é do mesmo diretor de Sex And The City

2- Você ainda acha que ela se arruma pra você quando vai sair? Fon foooooooooon! Errado! Ela se arruma para as outras mulheres. Você é meramente um prêmio de consolação.

3- Você que não está enxergando objetivamente. A mulher de hoje é muito melhor que a de antes. Ela é bem sucedida, portanto ela divide a conta com você. Ela tem muito mais liberdade sexual para ousar, portanto você não precisa mais procurar na rua. 

4- Ela bebe mais, portanto você não precisa mais inventar mentiras pra beber com os amigos todas as vezes que quiser ver o seu time jogar. Ainda é provável que você tenha que brigar com ela porque ela quer ficar até mais tarde no bar e você trabalha cedo no outro dia.

5- Ela é bem sucedida, portanto não vai ligar se você tem um carro 99, seu perfume não é importado, sua calça não é Diesel e que você não tem uma casa na praia.

O melhor de tudo é que ela vai gostar de você pelo que você é. Se ela quiser tudo isso, ela mesma vai conquistar. O que? Você está solteiro? Então, o que você ainda está fazendo aqui lendo que não saiu pra aproveitar toda essa maravilha? E ainda com um plus: você não precisa ligar no dia seguinte porque provavelmente ela te deu um telefone falso. (risos)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Muitas em uma

Com certeza absoluta, o meu maior divertimento é observar as pessoas. Sempre tem cenas e histórias que me deixam lições e ensinamentos.

Estava numa padaria da cidade dia desse qualquer e comecei a observar uma
garotinha que olhava admirada para um balcão de inox que ficava junto a duas prateleiras de vidro e fazia com que ela se visse refletida. -"Mãe, eu sou duas!", gritou a garotinha para a mãe, que com cara de cansaço de final de dia, nem a deu atenção. 

“-Não mainha, sou três!” Novamente a mãe nem tuiú pra ela. Olhei para aquela cena, a garotinha refletida em três imagens e comecei a pensar naquilo tudo.

Taí, acho que queria ser três! Seria ótimo ter três possibilidades de ser eu. A primeira, eu seria só a mulher amante. Estaria sempre pronta para receber o meu homem, muito bem depilada (cavadinha e tudo!), super bem hidratada com banho de lua, peeling de tudo o que existe no rosto, unhas perfeitas, cabelos cauterizados e escovados, muito, muito cheiro bom por todos os lados do meu corpo, rosto e cabelos. Sempre pronta e disposta para dar e receber prazer!

A segunda seria a dona de casa, com feira pra fazer, meninos pra deixar e pegar, e deixar e pegar novamente em vários lugares umas três vezes durante o dia, unha e cabelo pra fazer, casa para administrar, empregada para orientar, tarefa escolar para fazer a noite, sempre na hora da melhor cena da melhor novela, e muitas obrigações para planejar para o outro dia.

A terceira, ah, a terceira, seria a mulher! Essa eu mesma comigo mesma, sabe?  A mulher que sabe o que quer e faz as suas escolhas conscientes. A mulher decidida, que se cuida para ela mesma e que a respeita mais do que tudo e todos.
A mulher que lê como prazer, que tem a música como relaxamento, o vinho como excelente companhia e a vida como professora. Pois é, teria três possibilidades!

Pois é... Seria muito bom!
Pois é... Não, não queria ter nada disso de três possibilidades, pensando bem.
Queria e quero ser exatamente como sou, assim.
Uma só.


Talvez naquele momento a depilação não tenha dado tempo de ter sido feita, ou o vinho tenha avinagrado por não ter sido tomado ou tenha que pegar marmita porque o almoço não foi feito pois a empregada faltou, não tem nada, amanhã é outro dia e eu posso ser novamente quem eu quiser, sem nunca deixar de ser eu mesma: muitas!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mulher casada procura...



Empregada doméstica que queira trabalhar mediante remuneração justa em casa de família com quatro membros. Exige-se que a mesma cozinhe, lave, passe, assobie, chupe cana e cante o hino das empreguetes para animar o ambiente.

Os lares modernos não raro dispensam as mães e esposas para o trabalho externo enquanto dentro de casa reinam mulheres alheias àquela família e que só ficam ali mediante pagamento. A revelia das opiniões mais variadas, minha experiência pessoal indica que essa situação, para ficar boa, tem que melhorar muito.

As mulheres que entram em nossa casa, muitas vezes sem nunca antes terem visto nossa família, entram sem vínculo, sem amor e com poucas intenções de estreitar laços e desenvolver virtudes por um salário mínimo. Muitas só querem o trabalho. E quase todas que contraem os serviços na condição de patroas querem mais do que isso, querem uma substituta, uma anja, uma mulher que deixe a casa delas limpa, organizada, como se elas estivessem ali.

Nada de marido beberrão, nada de raparigas, não é falta de dinheiro (mas também não sobra muito), não é trabalho de filho, nada disso. Empregada doméstica tem sido minha maior dificuldade na vida de casada.

Por aqui já passaram muitas nesses quinze anos, mas na casa de minha amiga Rizoneide, passou mais. E teve até uma que passou a mão no marido dela. E ela demitiu quem? A empregada. Devia ter demitido o marido que esse não sabe lavar nem passar.

Por: Líria Alvino

terça-feira, 3 de julho de 2012

Olha pro céu, Meu Amor!

   Pouquíssimas épocas do ano me fazem sentir tão bem como o mês de Junho. É coisa de infância. Quem cresceu em cidadezinha do interior sabe bem onde esse sentimento mora. O Brasil todo olha para o nordeste de uma maneira diferente. De repente somos os donos da casa, e da festa. Tudo o que um instante atrás era sinônimo de pobreza se torna detalhe importante da composição de uma identidade. Gente descolada quer ser caipira. Caipira quer ser chique. Chique é ser matuto. E matuto mesmo é quem estira o beiço, torce o nariz e não participa da festa. Famílias se reúnem para preparar o milho, as pamonhas, canjicas e uma infinidade sabores simples que não se acanhariam mesmo servidos na mesa de um rei. Forma-se o arraial. A música da moda é forró, xote, xaxado e baião. São João recebe seu povo ao som dos fogos e entre o colorido das bandeirinhas. Santo Antônio trabalha como nunca. É hora de ter fé. É tempo de olhar em volta e se maravilhar com tudo aquilo o que Gonzagão cantou.
  Mesmo em ano de estiagem, quando o sol parece tão exibido que nuvem alguma lhe quer fazer companhia, acontece aquele momento. Aquele pelo qual todo sertanejo espera. Aquele que é lembrado a cada roçado plantado. Aquele no qual a a fé é inevitável. É esse momento, esse dia, que guardo com o maior carinho desde criança. Um dia você acorda, anda até a janela e vem aquela sensação de incredulidade. Meses sem cair uma gota de chuva e subitamente o dia amanhece nublado. O céu naquela coloração estranha e confortável que te faz pensar que acordou cedo demais. Passa a manhã, vem a tarde...e nada. Tempo fechado e nada de água. Não vai ser dessa vez. Será? Quase sete da noite, é hora de ir à missa.
-São João já passou. Hoje é dia de quê mesmo, mãe?
-Dia de São Pedro.
-Ah...
   E era só pôr os pés na calçada da igreja de São José que a profecia nordestina se concretizava. A água molhava o rosto e todo mundo corria para dentro da igreja. Dia de São Pedro sempre chove. Que bom que chove. Molha por um dia a terra e o coração da gente. Coisas assim só acontecem nessa época. Que bom que ela existe. Mas como tudo mais, ela passa. E fica apenas essa sensação. Uma mistura de calor e saudade. Um aceno de chapéu e uma reverência da quadrilha bonita que se despede e vai indo para longe. Vai e não volta. Pelo menos até o ano que vem. O jeito é esperar.

   Até!


   Luedna Souto.