Esperava sentada no banco da praça há mais de duas horas. Sabia que ele passaria por ali na volta do trabalho. Quantas vezes ficara ali alegremente para encontrá-lo. Mas desta vez o motivo era outro.
Haviam rompido há três meses. Um dia qualquer tiveram uma briga, sem grandes razões. Declarou o fim. Apenas para provocar-lhe o desespero e o pedido de desculpas. Mas ao contrário do que esperava, ele simplesmente aceitou. Deu de ombros, virou-lhe as costas e bateu a porta ao sair. Não retornou desde então.
Chorou dias inteiros abraçada às lembranças, fotos e presentes. Não imaginava ser possível tanta infelicidade. Após um mês de luto fechado decidiu que já era o suficiente. A vida teria que seguir adiante. Jogou todos os vestígios do passado amoroso no lixo, arrumou-se e foi trabalhar.
Ao chegar no escritório, recebeu elogios pelo capricho repentino. Alguns se disseram aliviados que ela também já tivesse superado o fim do relacionamento. "Também" soou como um martelo de tribunal, estava dada definitivamente a sentença. Namorava outra, estava feliz, não sofrera nada.
Não importava mais. Desejava-lhe o melhor, que fosse feliz. Não era do tipo que guardava rancor.
Cinco e meia da tarde. Seu coração acelerou quando o viu surgir na esquina. Como estava mudado, bonito, parecia até mais jovem. Sem dúvida estava feliz. Parou surpreso ao vê-la. Com um cumprimento frio e um elogio desinteressado cumpriu a obrigação social. Já estava de costas retomando seu caminho quando ela decidiu que a conversa não havia acabado.
-Espera!
-Que foi?
-Não sentes mais a minha falta?
-O que?...olha, tenho pressa. Até mais ver...
-Este tempo todo guardei algo seu comigo.. Algo que fui incapaz de jogar fora. Acho que deveria ficar contigo.
-O que é?
-Está na minha bolsa, espera...
Pôs a mão dentro da bolsa e segurou com firmeza o objeto. Olhou novamente para aquele que tanto amara e por um segundo, amou-o novamente, intensamente. Ergueu a mão em direção ao outro, sem vacilar.
-Meu deus! Enlouqueces-te!
-Acredito que esta bala seja sua, não seria justo mantê-la comigo.
-Não!
-Formam um perfeito par, e não permitiria que um casamento como este não se realizasse. Adeus, meu querido. Escreva uma carta e conte-me como se ama na próxima encarnação...
-Ah...!
O barulho do disparo foi tão forte quanto o estalar dentro do peito. Andou até o corpo sem vida e guardou para si aquela expressão de morte. Agora sim o passado seria enterrado. E que gosto estranho e doce sentia entre os lábios.
Ergueu o olhar e o sol poente cegou-lhe por um instante. Retornou do devaneio. Já passava da hora que ele retornaria do trabalho. Não apareceu. Talvez estivesse doente.
Levantou e tomou o rumo de casa. A cada passo dado desejava sentir novamente aquele doce sabor. Quantos pequenos assassinatos o sofrer do amor nos leva a cometer mentalmente? Muitos...ah muitos...