Não correram muitos anos desde o nosso primeiro encontro. Pelo menos é essa a sensação que tenho. O brilho que ela carregava no olhar ao nosso primeiro toque trouxe ao dia uma cor diferente.
No frescor dos quinze anos recém completados, seu perfume exalava sonhos e liberdade. Estudávamos juntos horas a fio. Ouvia suas idéias, planejávamos revoluções. Seus segredos me eram confiados. Escrevemos juntos cartas de amor. Éramos inseparáveis. Quantas vezes nossos olhares se cruzavam durante o dia. Que cabeça a dela! Nunca lembrava seus compromissos. Era meu prazer mantê-la pontual. Comigo ela se sentia bonita, especial, orgulhosa, altiva. Em meus braços ela encaixava sua vida.
Dividíamos o mesmo tempo. Nossos corações batiam em sintonia. Em tempos difíceis apoiei seu rosto junto ao meu e nos molhamos de dor e sentimento. Olhávamos juntos e sem esperança as horas passarem. Superamos as tristezas. Vivemos tempos de glória! Ah, a contagem regressiva à meia-noite... Era para mim seu último olhar de um ano, e o primeiro do que iniciava. Quando achava que meu fim estava próximo, sempre contei com seus cuidados, e sobrevivi.
Passamos juntos pela vida. Uma bela caminhada que teve seu último passo. Como um sopro de vento sob as asas da andorinha pequena, ela se foi. Tranquila. Embebida na mais pura beleza. Entre flores ela repousa na sala. E eu, destinado por carta aos cuidados de sua irmã mais querida, olho pela janela e me sinto imensamente triste. Como é cinza o céu dos que lamentam.
Mas acima de tudo, sinto que nossa história foi perfeita. Afinal, nem todos puderam ser o relógio de pulso de uma grande mulher.
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