terça-feira, 3 de julho de 2012

Olha pro céu, Meu Amor!

   Pouquíssimas épocas do ano me fazem sentir tão bem como o mês de Junho. É coisa de infância. Quem cresceu em cidadezinha do interior sabe bem onde esse sentimento mora. O Brasil todo olha para o nordeste de uma maneira diferente. De repente somos os donos da casa, e da festa. Tudo o que um instante atrás era sinônimo de pobreza se torna detalhe importante da composição de uma identidade. Gente descolada quer ser caipira. Caipira quer ser chique. Chique é ser matuto. E matuto mesmo é quem estira o beiço, torce o nariz e não participa da festa. Famílias se reúnem para preparar o milho, as pamonhas, canjicas e uma infinidade sabores simples que não se acanhariam mesmo servidos na mesa de um rei. Forma-se o arraial. A música da moda é forró, xote, xaxado e baião. São João recebe seu povo ao som dos fogos e entre o colorido das bandeirinhas. Santo Antônio trabalha como nunca. É hora de ter fé. É tempo de olhar em volta e se maravilhar com tudo aquilo o que Gonzagão cantou.
  Mesmo em ano de estiagem, quando o sol parece tão exibido que nuvem alguma lhe quer fazer companhia, acontece aquele momento. Aquele pelo qual todo sertanejo espera. Aquele que é lembrado a cada roçado plantado. Aquele no qual a a fé é inevitável. É esse momento, esse dia, que guardo com o maior carinho desde criança. Um dia você acorda, anda até a janela e vem aquela sensação de incredulidade. Meses sem cair uma gota de chuva e subitamente o dia amanhece nublado. O céu naquela coloração estranha e confortável que te faz pensar que acordou cedo demais. Passa a manhã, vem a tarde...e nada. Tempo fechado e nada de água. Não vai ser dessa vez. Será? Quase sete da noite, é hora de ir à missa.
-São João já passou. Hoje é dia de quê mesmo, mãe?
-Dia de São Pedro.
-Ah...
   E era só pôr os pés na calçada da igreja de São José que a profecia nordestina se concretizava. A água molhava o rosto e todo mundo corria para dentro da igreja. Dia de São Pedro sempre chove. Que bom que chove. Molha por um dia a terra e o coração da gente. Coisas assim só acontecem nessa época. Que bom que ela existe. Mas como tudo mais, ela passa. E fica apenas essa sensação. Uma mistura de calor e saudade. Um aceno de chapéu e uma reverência da quadrilha bonita que se despede e vai indo para longe. Vai e não volta. Pelo menos até o ano que vem. O jeito é esperar.

   Até!


   Luedna Souto.

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